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Relacionamentos difíceis

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Escrito por A Redação

O poder do perdão nas relações mais desafiadoras da vida.

Mike Tucker

Quando Ashley, uma jovem recém-casada, me pediu para que orasse por ela, meu instinto pastoral e de conselheiro foi acionado de imediato. “Com certeza! Existe algum motivo particular pelo qual devo orar?”

Prontamente ela respondeu: “Minha família virá nos visitar por alguns dias… e todos eles têm NEP!”

Fiquei em silêncio por um instante, tentando compreender o que “NEP” significava, até que desisti e questionei: “O que significa NEP?”

Com seu destacado sotaque texano, Ashley me explicou: “Necessidade Extra de Perdão”.

Indivíduos com NEP podem se manifestar de várias maneiras: manipuladores, críticos, mártires da família, narcisistas ou pessoas que drenam emocionalmente quem está ao redor. Seus comportamentos envolvem críticas incessantes, falta de limites e abuso emocional ou físico. Podem ser argumentativos, acusadores, críticos, irados, agressivos-passivos, exigentes, controladores e assim por diante. Isso lhe parece familiar? Se a resposta for afirmativa, então você conhece um NEP.

Para vivermos em família, todos nós precisamos de um certo grau de perdão. Ninguém é perfeito. Perdoar e ser perdoado é uma prática contínua e fundamental para alcançarmos a harmonia nas relações familiares. Contudo, em cada família, existem pessoas que demandam um pouco mais de disposição para perdoar.

Ashley, a jovem da minha igreja, já havia experimentado as tensões e dificuldades de reuniões familiares passadas. Ela estava angustiada em busca de um plano que garantisse a sobrevivência dela e de seu marido durante a visita. Apesar de não poder lhe oferecer uma solução garantida, propus algumas táticas que poderiam tornar a experiência menos difícil.

É fundamental ter um plano. Nunca participe intencionalmente de uma visita com pessoas disfuncionais sem ter um propósito definido. Sem uma estratégia clara, suas reações a comportamentos negativos tendem a ser emocionais e podem piorar ainda mais a situação. Portanto, é aconselhável preparar e até ensaiar suas respostas antes desse momento. Uma experiência positiva é mais provável quando se tem um plano bem elaborado.

Qualquer estratégia demandará uma combinação de oração, paciência, perdão e estabelecimento de limites saudáveis. Também é importante ressaltar que, apesar de sermos convocados a amar e perdoar, isso não implica que somos obrigados a aceitar comportamentos prejudiciais. Gostaria de sugerir alguns pontos para orientar seu plano.

Preparo espiritual

Comece orando por você mesmo. Pode ser que, na perspectiva da sua família, você seja quem tem NEP! Embora possa parecer improvável, essa possibilidade não deve ser ignorada. Peça a Deus que lhe mostre suas imperfeições. Reconheça qualquer contribuição que você tenha dado para conflitos anteriores. Ainda que sua reação tenha sido provocada, isso não justifica atitudes inadequadas. Ore pedindo equilíbrio na resolução de conflitos.

Peça a Deus que acalme seu coração, transformando a raiva e a irritação em amor e compaixão. Ore para que tenha a sensibilidade de perceber quando a tensão começar a aumentar, e a sabedoria e a força necessárias para responder com paciência.

Antes da visita, peça a Deus que seus parentes sejam sensíveis ao amor divino. Ore para que eles sejam curados das feridas do passado, a fim de que a reconciliação se torne possível.

Atitude gentil

Pode dar a impressão de ser simples, mas não é! Não conseguiremos agir com bondade se ainda não tivermos recebido esse dom divino em nossa vida. Mesmo após recebê-lo, só seremos capazes de agir com bondade à medida que nos assemelharmos ao Doador da bondade!

Se você tem problemas para perdoar e ser gentil, como acontece com a maioria das pessoas, refletir sobre versículos bíblicos que abordam amor, perdão e resolução de conflitos pode ser muito benéfico. Inicie com textos como 1 João 4:7; Mateus 6:14 e 15; 18:15 a 22 e Gálatas 5:19 a 26.

Leia os evangelhos e note a compaixão e o perdão que Jesus manifestou em Seu relacionamento com as pessoas. Reflita sobre a vida Dele, e o Espírito Santo auxiliará você a se tornar mais semelhante a Cristo.

Comunicação respeitosa

Sem perceber, a maioria de nós adota padrões de comunicação negativos, o que tende a se intensificar ao lidarmos com pessoas que nos irritam. Aprender a se expressar de maneira menos ameaçadora pode trazer muitos benefícios.

Ao tratar de um problema, aprenda a usar declarações na primeira pessoa. Utilizar expressões como “eu me sinto” para expressar os sentimentos, em vez de culpar os outros, torna o diálogo menos agressivo. Por exemplo, não diga: “Você sempre me deixa com raiva”; mas fale: “Eu me sinto mal quando você diz isso”.

Um aspecto da comunicação que frequentemente é esquecido é a escuta. Procure escutar mais do que as palavras. Preste atenção também aos sentimentos por trás do que está sendo falado. Frequentemente, o que é apresentado como problema não é o verdadeiro problema. Fique atento às “questões ocultas”, como sentimentos de abandono, desamparo, desrespeito ou medo. Tente agir com compaixão. Procure compreender o ponto de vista do outro, mesmo que você não concorde com ele.

Limites claros

Ser compassivo não significa ser passivo ou tolerar maus-tratos. Todo relacionamento saudável requer limites bem definidos. Antes de iniciar a visita, estabeleça quais comportamentos você está disposto a tolerar e quais não aceitará. Quando notar que a situação está fugindo do controle, expresse seus limites de maneira respeitosa. Mudanças não ocorrem instantaneamente nem sem perseverança. Não desanime se os resultados não aparecerem de imediato.

Coração perdoador

Perdoe como Cristo perdoou, mas isso não implica que você deva aceitar ou persistir em tolerar comportamentos prejudiciais. Em algumas situações, reduzir a duração da visita pode ser a melhor escolha. Apesar de não ser possível controlar as atitudes alheias, você deve ter controle sobre suas reações.

Se a situação lhe causar um sofrimento emocional muito profundo, pense em procurar um conselheiro ou psicólogo cristão. Buscar ajuda profissional para enfrentar dificuldades nos relacionamentos não é motivo de vergonha.

Você também pode encontrar força e ânimo ao se conectar com amigos cristãos dispostos a orar por você e oferecer apoio. A orientação de Paulo para levar as “cargas uns dos outros” (Gl 6:2) continua atual e necessária.

Poder do amor

O evangelho é fundamental para todos os relacionamentos. Mantenha a mensagem de Cristo no centro de cada interação. É o amor de Jesus que deve nos motivar (2Co 5:14). Ao expressarmos esse amor, até mesmo em relações com pessoas difíceis, crescemos à semelhança do Salvador.

Algumas semanas após nossa conversa inicial, Ashley me procurou para agradecer as orações. Então lhe perguntei: “Como foi a visita?”

Com certa satisfação, ela respondeu: “Não foi perfeita, mas foi muito melhor do que eu esperava!”

Não há garantias de que as reuniões com NEPs serão bem-sucedidas. No entanto, um planejamento cuidadoso, aliado à oração, proporciona maior probabilidade de um resultado favorável. Algumas pessoas estão tão machucadas que nenhuma estratégia parece funcionar. Ainda assim, o melhor caminho é sempre persistir em atitudes e comportamentos saudáveis. 

MIKE TUCKER é orador do programa Mad About Marriage (Louco pelo Casamento), nos Estados Unidos

(Artigo publicado na edição de dezembro/2025 da Revista Adventista / Adventist Review)

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A Redação

Equipe da Revista Adventista

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