Wellington Barbosa
O texto de Isaías 58:13 e 14 sempre é incluído em estudos bíblicos sobre o sábado. Nesses versículos, Deus reafirma a santidade do sétimo dia, convocando Seu povo a deixar as atividades comuns, evitar interesses próprios e dedicar-Lhe esse tempo sagrado ao fim de cada semana. Contudo, devido à clareza com que a observância do sábado é apresentada, muitos acabam ignorando o contexto mais amplo em que essas palavras se encontram.
No capítulo 58, o Senhor denuncia a incoerência entre práticas religiosas zelosas e um comportamento social e pessoal desordenado, lembrando que não existe relacionamento autêntico com Ele sem compromisso com o próximo. A estrutura literária do capítulo equilibra repreensão e promessa: o jejum formal (v. 2-5) contrasta com o sábado celebrado com alegria e recompensa
(v. 13, 14), enquanto o centro do texto (v. 6-12) apresenta o jejum que Deus aprova e as bênçãos que dele fluem (J. Alec Motyer, Isaiah [InterVarsity Press, 1999], p. 407).
Essa tensão entre culto e vida prática não é exclusiva da época de Isaías; trata-se de uma tentação que acompanha o povo de Deus ao longo dos séculos. Jejuar, guardar o sábado, participar do culto e entregar ofertas pode ser relativamente simples quando comparado ao desafio de confrontar a inclinação natural do coração humano ao orgulho, egoísmo e ressentimento. Ainda assim, Deus espera que Israel vá além de uma religiosidade de aparência. Por isso, Ele questiona: “Será que não é este o jejum que escolhi: que vocês quebrem as correntes da injustiça, desfaçam as ataduras da servidão, deixem livres os oprimidos e acabem com todo tipo de servidão? Será que não é também que vocês repartam o seu pão com os famintos, recolham em casa os pobres desabrigados, vistam os que encontrarem nus e não voltem as costas ao seu semelhante?” (Is 58:6, 7).
Não por acaso, Ellen White enfatizou repetidas vezes que Isaías 58 deveria ser estudado atentamente pelos adventistas. Ela afirmou: “A obra especificada nessas palavras é a obra que Deus pede que o Seu povo faça. É uma obra indicada pelo próprio Deus. À tarefa de reivindicar os mandamentos de Deus e reparar a brecha que foi feita na lei de Deus devemos acrescentar compaixão pela humanidade sofredora. Devemos mostrar supremo amor a Deus, exaltar o Seu memorial, que foi pisoteado por pés ímpios; mas nisso devemos manifestar misericórdia, benevolência e a mais terna piedade pela humanidade decaída. ‘Ame o seu próximo como você ama a si mesmo’ (Mt 19:19). Somos um povo que precisa pôr as mãos nessa obra. O amor revelado pela humanidade sofredora dá sentido e poder à verdade” (Beneficência Social, [CPB, 2023], p. 24).
Neste período festivo em que se destaca o espírito solidário, somos chamados a ir além das ajudas circunstanciais. Para aqueles que aguardam o iminente retorno de Cristo, a disposição de repartir as bênçãos e aliviar o sofrimento humano deve ser tão essencial quanto o compromisso com o ensino bíblico correto. Naquele Dia, a questão decisiva não será apenas o conhecimento da verdade, mas a forma como essa verdade se traduziu em atos de bondade em favor dos menos favorecidos. Afinal, para Jesus, “sempre que o fizeram a um destes Meus pequeninos irmãos, foi a Mim que o fizeram” (Mt 25:40). 
WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista
(Editorial da edição de dezembro/2025)


