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Vislumbre da graça

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Escrito por A Redação

A perspectiva de Ellen White sobre um Natal que reflete o amor divino.

Anna Galeniece

Na cultura em que cresci, o Natal não era comemorado por duas razões: a propaganda ateísta contra a religião e a crença de que o dia 25 de dezembro está ligado à tradição pagã de celebrar o solstício de inverno nessa data.

Anos mais tarde, ao me mudar para os Estados Unidos, encontrei uma realidade bastante diferente. O Natal é amplamente festejado, mercantilizado e frequentemente despojado de sua essência religiosa. As pessoas trocam presentes e participam das celebrações, mas Cristo raramente é o foco.

Essas experiências contrastantes me levaram a refletir sobre a perspectiva de Ellen White em relação ao Natal e quais orientações ela poderia oferecer à igreja sobre essa celebração.

Preparo para o Natal

Ao ler os escritos da pioneira, fica evidente o quanto ela exaltava a Cristo de maneira contínua. Jesus era a figura central a quem ela dedicou toda a sua vida, todo seu amor e adoração. Assim, não é surpreendente que Ele permaneça como o foco central dessa celebração profundamente espiritual.

Nessa época do ano, Ellen White dedicava uma atenção especial às famílias com crianças. Ela encorajava os pais a ensinarem seus filhos e jovens a entender o real sentido da data, direcionando seus pensamentos, expectativas e presentes para Deus. Ela afirmou que seu “propósito era chamar atenção das crianças para a forma simples como o Redentor veio ao mundo”. E, se “todo o Céu se interessou pelo grande evento da vinda de Cristo à Terra”, por que deveríamos agir de maneira diferente? (“Christmas address to the young”, Review and Herald, 17/12/1889).

Ellen White também incentivava os cristãos a serem criativos em suas comemorações natalinas, tornando-as mais interessantes e agradáveis, já que o Natal era, segundo ela, uma oportunidade adequada para honrar a Deus em família. Apesar de admitir que Cristo não nasceu em 25 de dezembro, ela incentivava os cristãos a manter Jesus como o foco principal da celebração, evitando distrações com costumes e tradições mundanas. A autora afirmou: “Não há santidade divina no dia vinte e cinco de dezembro; e não é agradável a Deus que qualquer coisa relacionada à salvação do ser humano, por meio do infinito sacrifício feito por eles, seja tão tristemente deturpada de seu propósito declarado. Cristo deve ser o objeto supremo” (“Christmas Is Coming”, Review and Herald, 9/12/1884).

Ellen White também encorajava o uso do pinheiro como um meio de bênção durante as festividades natalinas, em vez de vê-lo como um objeto de idolatria ou pecado (ibid.). Para ela, a árvore poderia inspirar generosidade, com seus galhos sustentando presentes para os necessitados e ofertas destinadas a Deus (O Lar Adventista [CPB, 2021], p. 399).

“Deus muito Se alegraria se no Natal cada igreja tivesse uma árvore de Natal sobre a qual pendurar ofertas, grandes e pequenas […] com o fruto de ouro e prata da beneficência de vocês, e apresentem isso a Deus como seu presente de Natal. Sejam suas doações santificadas pela oração” (ibid.).

Dessa forma, Ellen White utilizou um recurso conhecido, a árvore de Natal, conferindo-lhe um sentido que glorificasse a Deus e exaltasse o exemplo de sacrifício de Cristo.

Troca de presentes

Ellen White defendia uma abordagem equilibrada quando se tratava da troca de presentes. Apesar de não se opor a dar alguns presentes às crianças, ela admitia que as celebrações natalinas haviam sido “deturpadas do seu uso original” e que “presentes são esbanjados em número” (“The holidays”, Review and Herald, 11/12/1879). Por essa razão, encorajava os cristãos a destinarem suas dádivas a causas mais relevantes, como apoiar iniciativas “em favor dos necessitados” (O Lar Adventista, p. 399) e promover o evangelismo, “a obra que Cristo veio realizar” (“A missionary appeal”, Review and Herald, 15/12/1885).

Esse espírito de sacrifício e generosidade inspira presentes e celebrações genuinamente altruístas, pois “mais bem-aventurado é dar do que receber” (At 20:35). Como ela mesma disse: “No Natal, que os membros de cada igreja se reúnam, trazendo ofertas de mãos e corações dispostos – frutos do amor e da gratidão a Deus. Que todos usem suas habilidades e influência para tornar essas reuniões algo atrativo e edificante. Vejam quanto podem contribuir para o progresso da obra do Senhor” (ibid.).

Em vez de incentivar “um dia de banquetes, glutonaria e indulgência egoísta”, Ellen White aconselhava os pais a ensinarem aos filhos o verdadeiro sentido do Natal: generosidade e amor ao próximo. Ela recomendou: “Neste ano, não vamos gastar dinheiro com presentes para nós, mas vamos honrar e glorificar a Deus. Testemunharemos nossa gratidão Àquele que entregou Seu Filho para morrer como nosso sacrifício, a fim de que pudéssemos receber o presente da vida eterna” (“The inestimable gift”, Review and Herald, 11/12/1888).

Que exemplo digno de ser imitado!

Tempo para a missão

Para a mensageira do Senhor, o Natal também era uma época para cumprir a missão. Ellen White apoiava e promovia a obra missionária por meio de suas pregações, seus escritos e estilo de vida. Um exemplo disso pode ser observado em seu sermão proferido na véspera do Natal de 1893, na igreja de Parramatta, na Austrália. Estavam presentes muitos não adventistas, e sua mensagem focou no nascimento de Cristo e nas ofertas de Natal, enfatizando “o grande sacrifício feito por Jesus Cristo para salvar um mundo perdido” (Manuscrito 89, 1893).

Durante seu ministério, Ellen White costumava aproveitar a temporada de Natal para pregar, tocando corações que poderiam estar mais receptivos ao evangelho. Em 1878, numa manhã gelada de Natal no Texas, Tiago e Ellen White realizaram uma verdadeira celebração: compartilharam o desjejum com 13 pessoas carentes e enfermas, incluindo a família Moore. Naquele mesmo dia, os White dedicaram seu tempo para ajudá-la, pois seus cinco integrantes estavam passando por dificuldades extremas. Alimentos, roupas e móveis foram doados, e um abrigo temporário foi providenciado. Além disso, o casal White doou parte de sua roupa de cama para que a família pudesse se aquecer e dormir com mais conforto (Manuscript Releases [Ellen G. White Estate, 1993],
v. 14, p. 318-321).

Enquanto muitos se preocupam com compras e presentes, frequentemente esquecendo-se de Cristo, as mensagens de Ellen White nos convidam a acolher o verdadeiro significado do Natal: Jesus Cristo e Seu amor pela humanidade.

O que fazer

Neste período natalino, em meio às festividades que nos rodeiam, que o chamado da pioneira para vivermos uma fé centrada em Cristo e orientada para a missão conduza você e sua família. Com isso em mente, separe um momento para refletir sobre as perguntas desafiadoras feitas por ela:

“Neste ano, consagraremos a Deus não apenas uma parte, mas todos os nossos presentes de fim de ano, para o sustento de Sua causa, que está em tão grande necessidade? De que maneira poderíamos comemorar de forma mais adequada o Natal que se aproxima? Como podemos expressar nossa gratidão a Deus pelo dom de Seu Filho amado de maneira mais significativa do que por meio de ofertas para levar ao mundo inteiro a mensagem de Sua breve vinda?” (“Our missions in Europe”, Review and Herald, 6/12/1887). 

ANNA GALENIECE é diretora associada do Patrimônio Literário de Ellen G. White em Silver Spring, Maryland (EUA)

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A Redação

Equipe da Revista Adventista

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