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Esferas da vida

Escrito por Da Redação

A ansiedade de quem encara o fim de uma etapa sem saber o que vem depois.

Pablo Canalis

Roberto estava confuso, triste e angustiado. Ele acreditava que as coisas seriam diferentes. Gostava de contar que começou a trabalhar aos 13 anos. Na época, por causa de alguns problemas financeiros da família, passou a ajudar em um mercado próximo à sua casa. Ali, aprendeu muitas coisas; mas, acima de tudo, a lidar com pessoas.

Aos 18 anos, deixou o mercado e foi trabalhar em uma metalúrgica. Logo percebeu que aquele ambiente não era para ele. Seu coração estava nas vendas, no varejo. Quatro anos depois, conseguiu uma vaga em uma loja de peças automotivas e, com dedicação, foi crescendo na empresa. Até que, aos 30 anos, tornou-se sócio do dono. Juntos, abriram mais duas filiais: uma a 50 km e outra a 100 km de distância.

Gerenciar três lojas tornou-se um grande desafio, mas ele gostava disso. O que pesava era o impacto nas relações familiares. A distância e as viagens constantes começaram a atrapalhar o convívio com a esposa e os filhos, que reclamavam de sua ausência. Então, decidiu se mudar para a cidade a 50 km de distância, exatamente no meio do caminho entre as três unidades. Isso tornou as viagens menos cansativas e permitiu ficar mais tempo em casa. Mesmo assim, a esposa seguia insatisfeita. Para ela, Roberto ainda passava tempo demais no trabalho.

O tempo passou. Nenhum dos dois filhos quis seguir seus passos. Isso trouxe uma frustração silenciosa para ele. No fundo, Roberto esperava que seus filhos dessem continuidade ao legado que ele construiu com tanto esforço. Mas parecia que, por terem recebido tudo com facilidade, não se sentiam motivados a manter o negócio da família. Por isso, seguiram outros rumos profissionais e se tornaram bem-sucedidos.

Agora, a aposentadoria se aproximava. A esposa intensificava os pedidos: queria que ele parasse de trabalhar para que aproveitassem a vida juntos. Viajar, conhecer o mundo e viver o que ainda não tinham vivido. No entanto, para Roberto, viajar era desperdício de tempo e dinheiro. Afinal, o que uma viagem acrescentaria em estabilidade econômica? Assim, na mente daquele homem que se aproximava da terceira idade, parar de trabalhar era sinônimo de morrer lentamente.

A vida, porém, não se resume a uma única esfera. Muitas pessoas investem tanta energia em apenas uma área, como o trabalho, que, diante de qualquer mudança nesse campo, tudo parece perder o sentido. Mas a verdade é que todos temos várias “esferas” na vida. A esfera social, em que amizades precisam ser cultivadas; familiar, que requer vínculo, cuidado e presença diária; física, em que devemos cuidar integralmente do corpo; intelectual, que demanda desenvolvimento acadêmico e profissional; e espiritual, que nos conecta à Fonte da vida e dá propósito ao que fazemos. Todas são importantes e precisam de equilíbrio.

Quando priorizamos demais uma delas, inevitavelmente as outras sofrem. Nesse caso, o resultado pode ser o que Roberto estava sentindo: vazio, confusão e senso de inutilidade.

E quanto a você? Qual esfera está ocupando mais espaço em sua vida? Tem conseguido equilibrar todas elas? Suas escolhas têm afastado você da sua família? E de Deus? Avalie sua condição, priorize as esferas e mude o que for necessário. O equilíbrio é a chave para uma vida com propósito e felicidade. 

PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina
da Família e Comunidade

(Artigo publicado na seção “Em Família” da Revista Adventista de outubro/2025)

Sobre o autor

Da Redação

Equipe da Revista Adventista

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