Artigos Destaques

O problema da fofoca

Avatar photo
Escrito por A Redação

Como vencer esse mau hábito que destrói relacionamentos

David Buruchara

s histórias ajudam a dar sentido ao mundo. Todos se sentem naturalmente atraídos a contá-las e a ouvi-las. Mas há um perigo quando as narrativas que compartilhamos ocorrem às custas de outra pessoa. Ao trocar a confiança ou a reputação de alguém por um breve momento de interação social, tratamos a história dessa pessoa como moeda – e a gastamos sem cuidado.

A fofoca não afeta apenas quem é alvo da conversa; ela também afeta quem a pratica, moldando seu coração de maneiras que talvez nem perceba (Pv 18:8). De boatos casuais a comentários com aparência espiritual – como “vamos orar por fulano” –, a fofoca se manifesta em todos os ambientes: no trabalho, na escola, na igreja e em casa.

Ninguém quer ser alvo de fofocas. Mas é ingênuo pensar que podemos falar dos outros sem, em algum momento, também sermos alvo de comentários. É igualmente ingênuo acreditar que quem compartilha fofoca conosco jamais falará sobre nós. A fofoca raramente permanece em um ciclo fechado. E, além do risco social, há algo mais profundo em jogo.

Esse tipo de conversa muitas vezes ocupa o espaço onde a verdadeira vulnerabilidade deveria estar. Quando não estamos dispostos a reconhecer nossas próprias lutas e inseguranças, acabamos tomando emprestada a vulnerabilidade de outra pessoa. Isso nos dá uma falsa sensação de conexão, às custas do outro, o mesmo impulso que levou Cam a expor a vergonha de seu pai aos irmãos (Gn 9:21-24). Porém, a fofoca é uma maneira de evitar a conexão verdadeira.

Vença a tentação

Sou frequentemente tentado a falar dos outros e já compartilhei o que não deveria. Tenho orado e me esforçado para resistir a isso. Essas três perguntas me ajudam a ser mais intencional ao zelar pelas histórias alheias:

1. Se a pessoa estivesse nesta sala, eu me sentiria à vontade dizendo isso? Se chego à conclusão de que minhas palavras soariam diferentes na presença dela, vale a pena reconsiderar (Mt 7:12). As Escrituras alertam contra tirar proveito das limitações de alguém – neste caso, a sua ausência – para causar-lhe dano (Lv 19:14). Essa pergunta é um teste simples, mas poderoso, de integridade e amor.

2. Estou protegendo minha própria vulnerabilidade? Às vezes, fazemos isso porque parece mais seguro do que compartilhar sobre nós mesmos. Mas a fofoca é uma maneira de evitar a conexão verdadeira (Mt 7:3-5). Por isso, vale perguntar: estou falando sobre essa pessoa para não encarar a verdade sobre mim mesmo?

3. Essa conversa promove o crescimento sem manchar o caráter de alguém? Paulo exortou os efésios a falar com propósito, usando palavras que edificassem (Ef 4:29). Isso não significa ignorar comportamentos prejudiciais nem ficar em silêncio quando a verdade precisa ser dita. O próprio apóstolo João alertou sobre Diótrefes, citando seu orgulho e difamação como uma ameaça à comunidade (3Jo 9, 10).

Há tempo e lugar para dizer verdades difíceis. Mas, mesmo nesses momentos, nosso objetivo deve ser promover crescimento e oferecer proteção, não fazer críticas destrutivas nem manchar o caráter de alguém.

A princípio, escolher o relacionamento verdadeiro em vez do falso não é fácil. Isso requer uma mudança de mentalidade, algo que só Jesus pode operar em nós. Ele nos convida a cultivar conversas honestas, enraizadas no amor e que trazem vida. 

DAVID BURUCHARA é mestre em Educação e terapeuta de casais

Sobre o autor

Avatar photo

A Redação

Equipe da Revista Adventista

Deixe um comentário